Pensei em ler
algo, ouvir uma música, dedicar um tempo para a minha esposa...
Simplesmente
não consigo fazer isso hoje
O assassinato de Áttila Souza simplemente acabou
com minha noite
Me perco em vários pensamentos...
Todos de um enorme
desamparo
É horrível sentir-se impotente, imaginar-se no lugar dos parentes
dele
Pensar que se houvesse uma segurança decente nessa cidade, que
importunasse bandidos e não o cidadão, talvez isso não tivesse
acontecido.
Vou dormir me sentido derrotado... uma derrota que se tornou
a cara dessa cidade.
Isso não é dos últimos dias, já é assim faz muitos
anos.
Em 1999 fui assaltado, eu tinha 15 anos de idade.
Um dos
bandidos, insastifeito por eu nada carregar de valor, encostou o cano frio da
arma na minha cabeça... o comparsa dele pediu que ele não disparasse e ele
desistiu
Fui salvo por um outro bandido...
Fina ironia...
É
isso que me vem a mente agora; que um dia fui salvo da morte por um bandido, que
num surto de misericórdia convenceu o comparsa a me poupar
Tenho 29 anos
hoje, e as coisas continuam do mesmo jeito.
Só que hoje não houve nenhuma
misericórdia daqueles que assaltaram Áttila
Também não há misericórdia
daqueles que são responsáveis pela segurança. Daqueles que adoram armas, mas não
protegem ninguém.Daqueles que são eleitos, no município, no estado e no
país.
Pensar na segurança do homem comum significa tirar as pessoas da
zona de conforto, incomodar gente graúda que prefere aumentar o muro da própria
casa a pagar um imposto a mais. Que acha que pobre é tudo bandido, e que uma boa
cidade se faz apenas trazendo dinheiro e riqueza para alguns.
Em Santa
Cruz do Capibaribe, desde que me entendo por gente, a evasão escolar é enome,
ninguém valoriza o estudo, o conhecimento. O importante é hostentar bens e
símbolos de riqueza, mesmo que a prosperidade da cidade sirva de máscara para o
desastre social que é Santa Cruz.
Santa Cruz onde as pessoas reclamam dos
buracos nas ruas que atrapalham o passeio de carro, mas não reclamam de crianças
trabalhando, da falta de escolas, e, principalemente, da falta de um poder
público que seja pensado no cidadão comum.
Nossa cidade pensa nas
empresas, nas obras que elegem políticos (mesmo com alguns comprovadamente
corruptos), que se empenha nas rodadas de negócios. Pensa em aparecer nas festas
da alta sociedade e onde se paga alguns milhares de reais para ser capa da
revista que exalta a mesquinharia da burguesia medonha da cidade.
Santa
Cruz só não pensa no cidadão comum
Não são apenas os políticos, não são
os empresários, não somente "os outros"
Somos nós, que aceitamos um ideal
de grandeza (que em parte é verdadeiro e em outro não), para esquecer o desastre
que é essa cidade enquanto comunidade.
É só isso que tenho pra dizer.
Aqueles que não concordarem não se importem em responder a isso que eu
escreví. Não me importo com o que vocês pensam, afinal, que teve compaixão por
mim, um cidadão comum, foi um bandido numa noite de domingo em
1999.
Por: Mário Flávio.
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